ESTUDO BIBLICO SOBRE VIAGEM DE JONAS
“Cada um de nós ou
está na caravana para Nínive ou no n
avio para Társis,
percorrendo o caminho de Deus
ou seu próprio. Alguns
vão para Társis religiosamente.
Cantam e oram, ao mesmo tempo que fazem as coisas à sua
maneira, indo em
direção diametralmente oposta
à vontade de Deus”.
1. O profeta
Possuímos poucas
informações sobre o profeta
O
nome Jonas em hebraico significa ‘pomba’. No livro ap
2. O livroarece como ‘filho de Amitai’. Amitai tem sua raiz na palavra ‘emeth que
tem o sentido de veracidade, honradez, fidelidade. Amitai soa
como a minha verdade. Portanto, Jonas é a pomba, filha da ver
dade
que quer denunciar o nacionalismo teísta de Israel e proclamar a verdade do
amor de Deus por todas as nações. Em sentido figurado o nome Jonas significa a
capacidade de voar. Peçamos a Deus a graça de “voar por sobre os montes
e gritar sobre as cidades o amor de Deus por todas as pessoas”.tória bíblica houve
um profeta chamado Jonas, filho de Amitai, natural de Gal Jéfer, d
a Tribo de Zabulon,
aproximadamente 5 kms de Naza
ré. Ele foi
mencionado em 2Rs 14,25 e pertence à época de Jeroboão II (séc. VIII a.C.),
porém o Jonas histórico nada tem a ver com o Jonas do livro. O autor do livro
está numa época posterior (séc. V a.C.) e, certamente usou o nome do profeta
Jonas para dar autoridade ao seu livro. As sagradas escrituras não registram o
que Jonas fez depois da pregação em Nínive. Há uma tradição que diz que foi
enterrado em Nínive, mas carece de apoio histórico.
O livro de Jonas é o
quinto dos profetas menores e
possui
características peculiares. Ele não é uma profecia n
o sentido clássico, mas o relato da vida de um profeta. Há poucos discursos,
mas uma profunda análise dos personagens a partir de suas ações.
A classificação do
livro como gênero literário é controversa. A
lguns o classificam
como novela, outros como parábola, outra como alegoria e, outros ainda, como
narrativa histórica. O certo é que o livro
usa humor e sátira para transmitir uma verdade: a salvação é universal.
Acredito que hoje
esse livro seja importantíssimo para os cris
tãos, pois como disse
W. W. Sloan: “está mais próximo dos ensinamentos do Novo Testamento do
que qualquer outro texto das Escrituras hebraicas. O tema central é que Deus
está interessado em todas as pessoas de qualquer nacionalidade ou raça e espera
que aqueles que o conheçam se dediquem a compartilhar esse conhecimento”.
O livro é uma
denúncia de nossas antiprofecias e anún
cio da misericórdia
de Deus para todos os povos. “O objetivo do autor é levar o profeta, e na
pessoa dele, os leitores a um
a verdadeira
conversão à misericórdia de Deus, pois a salvação não é um patrimônio exclusivo
do povo escolhido.”
O livro está
organizado em duas partes paralelas: uma no mar, onde os marinheiros
representam os povos pagãos e outra em terra, onde Nínive representa a cidade
má e opressora de todos os tempos:
No mar
|
|
Em terra
|
A – 1,13
|
Missão de Jonas
|
3,1-4 – A
|
B – 1,4-16
|
Deus e os pagãos
|
3,5-10 – B
|
C – 2,1-11
|
Deus e Jonas
|
4,1-11 – C
|
E, para uma divisão
mais completa:
I. Vocação e
desobediência de Jonas – 1,1-3
II Intervenção de
Deus – 1,4-2,10
2. Jonas lançado no
mar – 1,15-16
3. Jonas no Fundo do
mar – 2,1-9
4. Libertação de Jonas
– 2,10
III. Deus renova o
chamado e Jonas obedece – 3,1-10
IV. Um profeta
descontente e um Deus misericordioso – 4,1-11
1. O descontentamento
de Jonas – 4,1-3
2. O parece de Deus –
4,4-9
3. A misericórdia de
Deus se estende a todos – 4,10-11
Apesar de o
personagem histórico ter vivido no século VIII a.C., o livro fala de outra
época. Fala da
época da reforma de
Esdras e Neemias
(século V a.C.). Com a restauração de Jerusalém e do Templo foi promovido um
exclusivismo religioso. Os judeus que apenas eles tinham acesso à salvação,
apenas eles constituíam o povo eleito, enquanto os pagãos deviam ser castigados
pelos seus crimes. A comunidade judaica do pós-exílio viv
- Separação dos estrangeiros (Ne 9,2);eu este fecham
ento devido ao momento
histórico. Eles precisavam reafirmar sua identidade que fora perdida no tempo
do exílio. Para isso tomaram uma série de atitudes radicais para a purificação
do povo. Vejamos algumas características desse fechamento:
- Proibição de casamentos
mistos (Ne 10,31; 13,23-25; Esd 9,12);
- Expulsão das
mulheres estrangeiras (Esd 9,1-10; 10,44);
- A lei foi colocada
em pé de igualdade com a lei da Pérsia (Esd 7,
O livro nasceu como
uma denúncia a
este particularismo
religioso da comunidade de Israel.
A Assíria era caminho
para o mar, ligando oriente e ocidente, por isso sofreu várias invasões. Estas
invasões despertaram nos ninivitas um profundo espírito de guerra. Criaram um
forte exército com cavalos, carros de guerra e armas d
e fogo superiores aos
povos vizinhos. Possuíam avançada técnica militar e eram cruéis. Para eles não
bastava vencer; eles massacravam e torturavam os povos conquistados. Eles
destruíam e queimavam as cidades, esfolavam os guerreiros em pedras, cortavam
orelhas, órgãos genitais e narizes para servir de exemplo para intimidar os
povos conquistados.
A Assíria começou a
ter importância política a partir do século VIII a.C. e Nínive foi escolhida
por Senaquerib para sua capital (2Rs 19,36; Is 37,37). Nínive se tornou, para o
povo bíblico, símbolo da violência e maldade, pois em 722 a.C. sob Sargão II,
devastou o reino do norte (Israel) e obrigou a Judeia a pagar tributos na época
do rei Manassés (6
98 – 643 a.C.). Naum
(1-3) e Sofonias (2,13-15) profetizaram contra ela.
A Assíria se tornou o
povo inimigo por excelência, afinal como não seria? Destruiu o reino do Norte e
dominou Judá por quase um séulo. Na campanha militar contra o Egito, o exército
passou pela Judeia, saqueando Tebas e dominando-a por um período (671-650).
O império enfraqueceu
em 631 a.C., pois os povos conquistados provocaram várias revoltas. Em 612
Nabopolazar, reis dos caldeus, junto com os medos, destruíram Ninive e
iniciaram o 2º império babilônico. Portanto, na época de escrita do livro de
Jonas, Nínive já não ex
Para o escritor do
livro, Nínive é símbolo dos estrangeiros imperialistas que dominavam pela
força. De modo mais amplo representavam os povos pagãos que tinham contato com
os judeus. A sagrada escritura acusa Nínive de:
a) Conspiração
contra Deus (Na 1,9);
b) Exploração dos
desamparados (Na 2,12);
c) Crueldade na
guerra (Na 2,12.13);
d) Idolatria,
prostituição e feitiçaria (Na 3,4).
Aceitar que esse povo
era objeto do amor de Deus era um
entrave para os
judeus. Afinal como Deus pode amar o inimigo que os oprime? Parece que eles se
esqueceram de sua vocação original: ser bênção para todos os povos (Gn 12,3;
18,18; 22,18; 26,04; 28,14; Eclo 44,21). As comunidades do interior de Judá
viviam essa experiência de acolhida, pois era fiel à tradição de Abraão.
A restauração
pós-exílica e a reforma de Esdras e Neemias tinham levado aos limites extremos,
a separação e ódio, quase sagrado, aos inimigos, particularmente aos edonitas,
aos samaritanos e a todos que não pertenciam à raça santa. Os judeus
aguardavam, com paciência, a concretização das profecias contra os povos
pagãos, feita pe
los profetas
anteriores. O atraso no cumprimento das profecias suscitava sentimentos desde o
escândalo à exacerbação do sentimento nacionalista.
A mensagem do livro
de Jonas é uma reação diante desse particularismo estreito e diante de uma
aceitação ruim e justiceira de Deus. Nesse sentido, a escolha de Nínive não é
casual. Quando o livro de Jonas foi escrito, Nínive já pertencia ao passado;
porém, a lembrança da grande cid
ade, cruel e
opressora, ficara na memória de todos como símbolo do mais rígido imperialismo
e da mais cruel hostilidade contra o povo de Deus. A grandeza da mensagem do
livro de Jonas é que também Nínive é objeto do amor e da misericórdia do Senhor.
Dois são, portanto,
os aspectos da mensagem do livro: a possibilidade da conversão dos inimigos
opressores e a aceitação, por parte de Israel, de que Deus seja misericordioso
com eles. Os dois aspectos são especialmente importantes; porém muito difíceis
de ser aceitos por um Israel habituado ao aniquilamento do opressor como único
caminho de saída. Uma mensagem mais difícil ainda de aceitar, se levarmos
em conta que o livro
de Jonas, distanciando-se de outros textos universalistas veterotestamentários,
não concebe a conversão de povos pagãos passando pela incorporação ao povo da
aliança, mas simplesmente por meio de uma mudança de conduta desde a situação
religiosa em que se encontram. A mensagem é tão cheia de imprevistos, que não é
estranho ver refletida no recalcitrante Jonas a atitude reticente de um povo
que, desde sua consciência de escolha, tenta limitar o amor misericordioso do
Senhor.
Uma releitura de
Jonas nos evangelhos mostra que Jesus acolhe a mensagem de Jonas nas parábolas
do filho pródigo e dos trabalhadores da vinha. A reação do filho mais velho e
dos trabalhadores da primeira hora se parece muito com a reação de Jonas. Nos
três casos, trata-se de uma reação mesquinha, própria de contextos puritanos e
exclusivistas. Exatamente como o filho pródigo e os trabalhadores da última
hora, Nínive, cidade estrangeira, pagã e inimiga, simboliza os pecadores e os
discriminados. Também a eles é preciso anunciar a conversão para que Deus lhes perdoe.
A parábola de Jonas é a parábola do Deus cheio de amor e misericórdia, que não
despreza nada do que criou.
Entendemos esta
mensagem à medida que observamos Jonas, profeta insensível, vingativo,
nacionalista e soberbo, que prende sua fé no peito, enquanto Deus procura fazer
com que ele a compartilhe de acordo com seu plano mais amplo de redenção.
Jonas, ao lutar contra os procedimentos divinos, às vezes nos lembra o
mesquinho irmão mais velho do pródigo. E como o pai, perdoador e alegre, o
Senhor insiste para que Jonas abandone a planta murcha e a barraca queimada
pelo sol e vá compartilhar da alegria da cidade perdoada. Jonas nos recorda
ainda o servo mau que foi perdoado, mas se fechou ao perdão. Quase ouvimos Deus
dizer para Jonas como disse para aquele homem malvado: “Servo malvado,
perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente,
ter compaixão [...] como também tive misericórdia de ti?” (Mt 18,32-33).
6. Milagres no livro
de Jonas
1. Tempestade
violenta 1,4;
2. O peixe que engole
Jonas 1,17;
3. A libertação de
Jonas 2,10
4. Nascimento de uma
planta 4,6;
5. O verme que rói a
planta 4.7;
6. O vento do oriente
4,8
Estes milagres são o
testemunho de que Deus coloca as forças da natureza em ação para realizar seu
plano de salvação. O amor de Deus por cada pessoa é tão grande que ele seria
capaz de mover céu e terra para salvar uma alma apenas.
“Deus poupou os
marinheiros quando pediram misericórdia. Deus salvou Jonas quando orou de
dentro do peixe. Deus salvou o povo de Nínive quando respondeu à pregação de
Jonas. Deus responde à oração daqueles que o buscam. Ele sempre fará a sua
vontade, e deseja que todos venham a ele, confiem nele e sejam salvos. Podemos
ser salvos se dermos a devida atenção às advertências que recebemos através de
sua palavra. Deus agirá conforme a sua graça se respondermos com obediência, e
conceder-nos-á a sua misericórdia e não o seu castigo”.
“Venham ter comigo
todos os que andam cansados e oprimidos e eu lhes darei descanso. Aceitem o meu
jugo e aprendam comigo, que sou manso e humilde de coração. Assim o coração de
vocês encontrará descanso, pois o meu jugo é agradável e os meus fardos são
leves” (Mt 11,28-30).